“Religião é algo muito dinâmico, não é para os acomodados”. (Rubens Saraceni)
Inocente aquele que pensa que, ao escolher qualquer religião para seguir, poderá frequentá-la e passar ileso por ela. Quando optamos por seguir uma religião que fala em nosso coração ou que nos ampara nos momentos mais difíceis devemos abraçar essa causa e nos dedicar de corpo e alma. É indiscutível que cada médium, tendo escolhido a Umbanda (ou tendo sido escolhido) é necessário se adaptar, se incluir nos rituais de sua casa.
Citaremos agora alguns rituais presentes na Umbanda e que geralmente causam questionamentos:
Preparação no dia do trabalho: logo pela manhã, no início do dia do trabalho espiritual, o médium deve ter alguns cuidados e se preparar, criar um ritual próprio onde facilite se lembrar de todos os seus deveres. O banho de defesa é um cuidado especial que nenhum médium deve descuidar. Tem funções diferenciadas, mas, é de extrema importância prepará-lo no dia de trabalho, mesmo que não tenha tempo de tomá-lo antes do início do trabalho, pode-se fazê-lo antes de sair de casa, pela manhã.
Outro cuidado é firmar uma vela durante esse dia, pedindo as bênçãos e proteções para a melhor condução dos trabalhos. Cuidar de sua alimentação também é importante, evitando comer carne, em especial, que é de difícil digestão e ainda contém as vibrações do animal.O mesmo para as bebidas alcoólicas ou substancias entorpecentes que modificam a vibração do médium.
No caso da prática do ato sexual, há troca de energia e todo médium precisa de energia a sua disposição para se doar durante os trabalhos. O médium melhor preparado pode tomar todos esses cuidados e pecar caso esqueça apenas um, porém o mais importante é ter boa vontade! Vontade em aprender cada dia mais, e perceber que esse conhecimento nunca cessa.
Saudando a tronqueira: não se deve entrar na casa de uma pessoa sem cumprimentar o seu dono. A mesma coisa no terreiro. Na tronqueira estão assentados os guardiões que fazem a segurança da casa. Desse modo, nada mais correto que saudá-lo e pedir-lhe licença para entrar na casa.
Antes de entrar no espaço preparado para os trabalhos, o médium deve cruzar a porta, isso mesmo, tocar o chão com as costas da mão que é a parte mais limpa de nossas mãos, fazendo uma cruz no chão. Esse movimento demonstra nossa reverência pedindo licença para entrar e saudando aqueles que ali estão firmados. Em nossa casa, por exemplo, logo ao lado da porta de entrada, temos permanentemente um ponto firmado de pai Ogum. Todo ponto riscado representa um portal aberto e deve ser respeitado não sendo pisado nem jogado objetos sobre ele. Logo depois, o médium deve se dirigir ao altar, com respeito, agradecendo em primeiro lugar por estar ali e pedindo as bênçãos dos paizinhos e mãezinhas orixás assentados naquele Congá. Cumprimentar os dirigentes da casa onde se escolheu frequentar, além de respeitoso é sinal de união, que a corrente mediúnica faz jus a seu nome onde cada médium forma um elo dessa corrente e tem sua função específica.
Postura do médium mais antigo: você pode até falar na língua dos anjos, mas, se não tiver amor, de nada servirá. O médium mais antigo de Umbanda ou da casa deve estar sempre atento para não perder a oportunidade de ajudar os médiuns iniciantes. Isso não quer dizer que o médium mais experiente deve deixar de lado seus rituais. Pelo contrário. Orar e vigiar é essencial, porque é hoje um exemplo que será seguido. Cumprimentar todos da casa, evitar se envolver em assuntos que causem constrangimento, chegar com antecedência e estar disponível, envolvido e disposto a cooperar com o melhor andamento de sua casa faz parte da conduta correta.
Em sua casa, ou ao visitar outras, o médium deve sempre adotar uma postura respeitosa, tanto em suas atitudes (procurando falar baixo, por exemplo) quanto em suas vestes, que sejam adequadas ao local religioso em que está.
Postura do médium em desenvolvimento: assim como cada pessoa é única, cada médium também é e sente sua mediunidade de uma forma. O médium necessita estar atento às mudanças, principalmente de acordo com as linhas trabalhadas. As energias dos orixás e entidades são sentidas de maneiras peculiares por cada um. É necessário ter cuidado para que os médiuns novos não se influenciem e possam assim perceber e sentir suas entidades, cada uma com suas vibrações.
Bater cabeça: o uniforme de trabalho dos umbandistas é a roupa branca. Não por ser puro, mas por ser a cor que resulta da junção de todas as outras. É dever do médium manter e cuidar de sua roupa de trabalho zelosamente. A toalhinha utilizada no momento de “Bater cabeça” tem como objetivo maior proteger nossa cabeça, nosso orí, que é sagrado, de um solo onde todos pisam e há diversos tipos de energias. O pano de cabeça, o filá, é um elemento que filtra e também protege o chacra coronário de seu médium de intervenções negativas.
Defumação: o espaço onde os trabalhos são realizados deve ser preparado. A defumação com ervas e fogo no turíbulo associa dois elementos poderosos: ar e vegetal. As ervas utilizadas com esse objetivo devem ser as quentes, por terem propriedade de limpeza mais ativas. A defumação também pode ser feita com tocha de fogo, água ou amaci.
Postura do cambone: os médiuns em desenvolvimento também podem auxiliar as entidades durante os trabalhos de diversas maneiras. A discrição e ética são palavras-chave para um cambone. O que for ouvido durante o passe não deve ser comentado com outras pessoas e, caso o cambone perceba algo que fuja da normalidade, deve comunicar apenas o dirigente, evitando assim comentários maledicentes. O cambone aprende muito com os guias enquanto ajuda, e também com os consulentes, exercitando seu lado humano e caridoso. Em determinados momentos, as entidades podem necessitar que os cambones desprendam energias para auxiliar no passe, por isso a imposição das mãos.
Ogãs e atabaques: assim como os médiuns seguem um ritual em dias de trabalhos, os ogãs também devem seguir. Adotar uma postura respeitosa com o dirigente e os trabalhadores da casa é importante. Essa postura fará com que esteja receptivo às necessidades do momento. Cada ponto cantado é uma oração e tem um objetivo. Os médiuns devem se utilizar dos pontos como chave para ativar e manter sua concentração no momento da incorporação.
Guias: é importante que todos os participantes dos trabalhos tenham suas guias, que são elementos de proteção e devem ser cruzados (benzidos) antes de utilizados. Desse modo, é ativado como elemento de proteção. As guias de Oxalá e das sete linhas da Umbanda são as primeiras que o médium deve ter. As outras, deverão ser adquiridas conforme as entidades pedirem. Vale lembrar que não são adornos, enfeites e que a quantidade de guias não está associada ao “poder” da entidade ou do médium.
Saída do terreiro: assim como ao entrar, bem como sair, o médium deve respeitosamente, saudar o altar, o chão e a tronqueira, agradecendo pela oportunidade e sustentação daquele trabalho. É importante que nunca saia do terreiro se sentindo mal ou com alguma dúvida. Os dirigentes devem estar atentos para auxiliar e responder possíveis questionamentos.
Elza Maria Firmino da Silva
Marisa Firmino da S. Sanches